Como em Diário de uma Paixão, Nick Cassavetes acredita que, enquanto houver memória, existe vida
Quem já viu Diário
de uma Paixão (The Notebook, 2004) pode se sentir familiarizado
com a estrutura de Uma Prova de Amor, o sexto longa-metragem
de Nick Cassavetes. Mais uma vez temos um embate, via flashbacks, entre
uma realidade que dói e afetos que ficaram no passado. Antes era a história
de um casal. Agora, de uma família.
Kate (Sofia Vassilieva) sempre conviveu com uma leucemia,
mas hoje, aos 15 anos, sua vida é mais infeliz do que antes. Seus pais (interpretados
por Cameron Diaz e Jason Patric) discutem, o irmão mais velho
(Evan Ellingson) se sente negligenciado e a caçula de 13 anos (Abigail
Breslin) - concebida em proveta para doar um rim à irmã doente - quer
decidir sozinha o que fazer com o próprio corpo, nem que tenha que lutar por
isso na justiça.
Parece sinopse daqueles telefilmes de tribunal apelativos, mas
o fato é que o caso judicial fica em segundo plano, e a prioridade é narrar
a história de vida de Kate. Como no filme de 2004, Cassavetes bate e assopra:
a doença no presente é cruel e impactante (antes eram as crises de raiva provocadas
pelo Alzheimer da personagem de Gena Rowlands, agora são os vômitos
e os sangramentos de Kate), já o passado guarda lembranças, mesmo aquelas
associadas ao câncer, dignas de serem revisitadas.
A memória é chave nesses dois filmes do filho de John Cassavetes.
Em Diário de Uma Paixão, elas precisam ser resgatadas a todo tempo
pelo personagem de James Garner, por conta da doença degenerativa de
Rowlands, para que o amor dos dois não se apague. Em Uma Prova de Amor, Kate tem em seu caderno recortes, fotos,
montagens e frases, recolhidos ao longo dos seus 15 anos, que parecem lhe dizer que essa vida, ainda que curta, lhe
tem sido plena. O esquecimento significa a morte para Nick Cassavetes, e nesse
ponto Kate está sabendo se eternizar.
O que permite enxergar no filme esse traço de autor? Acima de
tudo, o fato de Uma Prova de Amor ser inspirado em um livro cuja trama
é consideravelmente distinta. Não há no romance de Jodi Picoult essa
sensação de legado afetivo, e, ademais, o final do livro e do filme são agressivamente
opostos.
Desde os testemunhos dos familiares na narração em off
até as cenas felizes com câmera lenta e música ao fundo, tudo no filme é ordenado
e apresentado como uma espécie de álbum de família. Certamente não
deixa de ser uma coisa contraditória, mas ao mesmo tempo em que é espírita
ao extremo (a ideia de uma alma anterior à concepção,
as luzes do dia insinuando algo pós-morte, personagens prometendo se reencontrar),
Uma Prova de Amor celebra a vida com a urgência de quem acredita apenas
no instante.
Confira o trailler a seguir:
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